RESUMO

O escritor colombiano Gabriel García Márquez é reconhecido mundialmente como um dos autores que mais contribuiu para o boom da literatura latino-americana na segunda metade do século XX. No entanto, Márquez começou sua carreira profissional como jornalista, tendo trabalhado em jornais de diferentes países, como Colômbia, Venezuela, Cuba e Espanha. Heloiza Herscovitz (2004) esclarece que nos escritos jornalísticos marquezianos prevalece um estilo que rejeita descrições da realidade pautadas na objetividade do jornalismo tradicional, na medida em que os elementos composicionais da narrativa jornalística se apresentam articulados, ou melhor, “entranhados”, com recursos expressivos sobrenaturais (ou quase sobrenaturais) da realidade. Destacando características e especificidades da produção marqueziana, Cristóbal Pera, no livro El escándalo del siglo (2018), reúne cinquenta de seus textos jornalísticos, publicados entre os anos de 1950 e 1984. Neles, é evidente a constante presença de animais, característica que já havia sido apontada por Jacques Joset (1974) como um dos aspectos relevantes da produção de Márquez que ainda não recebeu a devida atenção da crítica. Com vistas a contribuir para o preenchimento dessa lacuna, esta pesquisa propõe a analisar a tensão entre o real e o fictício e, ainda, a presença dos animais a partir de uma abordagem que busca, no método indiciário de Carlo Ginzburg, detectar os rastros, as pegadas ou indícios deixados por Márquez, o grande escritor, Nobel de Literatura em 1982, no Márquez jornalista em onze textos de El escándalo del siglo: “Una equivocación explicable” (1950), “El asesino de los corazones solitarios” (1950), “El tigre de Aracataca” (1955), “Sólo doce horas para salvarlo” (1958), “6 de junio de 1958: Caracas sin agua” (1958), “Los cubanos frente al bloqueo” (1978), “Cuento de horror para la Nochevieja” (1980), “La poesía, al alcance de los niños” (1981), “El río de la vida” (1981), “Bogotá 1947” (1981) e “Vuelta a la semilla” (1983). Para realizar esta pesquisa, foram utilizadas as contribuições de filósofos e teóricos que se debruçaram sobre as questões das interseções entre jornalismo e literatura, das fronteiras entre o real e o fictício e da animalidade, como Gustavo Castro (2010), Felipe Pena (2022), Jacques Gilard (2006), Luiz Costa Lima (2006), Umberto Eco (2024), Carlo Ginzburg (2007), Wolfgang Iser (2002), Jacques Derrida (2002), Maria Esther Maciel (2023), J. M. Coetzee (2002), Gabriel Giorgi (2011), Irlemar Chiampi (2015), entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Crônica. Reportagem. Texto jornalístico-literário. Ficção e realidade. Animalidade